segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Autocarro


A vida não passa de uma viagem de comboio, cheia de embarques e desembarques, alguns acidentes, surpresas agradáveis e grandes tristezas. Quando nascemos, entramos nesse comboio e deparamo-nos com algumas pessoas que, julgamos, estarão sempre nessa viagem connosco: os nossos pais. Infelizmente, mais tarde ou mais cedo, chegam ao seu destino mas nós continuamos. Ficamos órfãos do carinho, da amizade e companhia insubstituíveis… mas isso não impede que, durante a viagem, pessoas interessantes embarquem e se tornem muito especiais. Chegam irmãos, amigos e amores. Muitas pessoas apanham o comboio, uns apenas de passeio, outros circularão pelas carruagens, prontos a ajudar quem precisa. Muitos descem e deixam saudades eternas, outros tantos passam por ele de forma que, quando desocupam o seu assento, ninguém se apercebe. Curioso é constatar que alguns passageiros, que nos são tão estimados, acomodam-se em carruagens diferentes e somos obrigados a seguir viagem separados deles, o que não impede, é claro, de lhes fazermos visitas mas, infelizmente, não podemos sentar-nos ao seu lado, pois o lugar já está ocupado. Não importa, é assim a viagem, cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, despedidas… porém, nunca tem retornos. Façamos essa viagem, então, da melhor maneira possível, tentando relacionarmo-nos bem com todos os passageiros, procurando, em cada um deles, o que têm de melhor, sem nos esquecermos que, nalgum momento do trajecto, eles poderão enfraquecer e, provavelmente, precisaremos entender isso, porque nós também enfraquecemos muitas vezes e, com certeza, temos alguém por perto que entende isso. O grande mistério, afinal, é que nunca saberemos quando chegamos ao destino, muito menos quem vão ser os passageiros com quem partilhamos a viagem, nem mesmo o que está sentado ao nosso lado. Dou comigo a pensar, se quando descer desse comboio sentirei saudades… acho que sim. Deixar alguns amigos que nele fiz será, no mínimo, penoso; deixar os filhos continuarem a viagem sozinhos, com certeza será muito triste, mas agarro-me à esperança que, seja como for, estarei na grande gare à espera de os ver chegar com uma bagagem que não tinham quando embarcaram… e o que me vai deixar mais feliz, será pensar que eu colaborei para que essa viagem tenha crescido e se tenha tornado valiosa. Espero que também façam um esforço para tornar a vossa viagem muito agradável e quando por fim a vossa estação chegar, que o vosso lugar vazio deixe saudades aos que prosseguirem nesse comboio.


Quando acordou no domingo de manhã, levou algum tempo até se lembrar por que motivo se sentia tão feliz e preocupado. Depois foi invadido de recordações da noite anterior.