sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Fósforos & Laranjas


Eram 14.10 horas quando estava a correr para apanhar o 2. Depois de 20 minutos, em pé, junto à janela e a dois velhinhos com um cheiro bastante particular, chego. Atravesso a Avenida vestida à época e deparo-me com duas horas de indecisão. O resultado fora, para alem de uma maçã e um chocolate (nem menciono o amendoim), duas camisolas (segundo soube, mais tarde, eram apenas t-shirts). Depois de um café para me recompor (e o café está sempre presente), parti em direcção à causadora de tal agitação. Mas quem pensava que os dois beijos de obrigado que esperava se transfigurariam num mar de surpresas? O pasmo e a admiração, neste momento, depois de um joão-pestana, já amainaram. Contudo continuo estupefacto com tal feito.

Os pormenores não os direi, pois de poucos me recordo. Tenho esperança que a reacção aos presentes tenha sido a melhor – assim o aparentou. Do lanche não me lembrava eu! Mas viria a relembrar (ou melhor, reviver) tardes, quase noites, partilhadas com tal rosto a quem tanto devo, cúmplice. O café, sempre presente, acompanhava-se de leite. E assim, com os galões, vieram os lanches especiais. A conversa, a meu ver, não podia ter sido mais quente. Originava um calor próprio - tanto que tive de desamparar, por alguns bons minutos, o meu tão querido cachecol. E o calor não veio só. Fez-se acompanhar de entusiasmo, boa disposição, alegria e cumplicidade. Oh, o quanto eu prezo, respeito, honro e admiro tal palavra. Desejo-a e anseio-a. Enfim…

Voltando, ao café, cujo o nome já soube e já me esqueci… O serão foi sempre assombrado por telemóveis (uma miríade de espadas de Dâmocles que pendem sobre a cabeça da Humanidade). O meu em silencio, a querer tocar, competia com o dela, que estando com som não queria tocar. O toque não se ouviu. As horas passaram. Recordo-me agora que a minha noção do tempo, na altura, era e é escassa. Horas ou minutos? Não sei, o bem-estar era certo.

Passou um autocarro… Dois autocarros… “Será aquele?”. Não, não era. Mas chegou. Eu entrei e fui para o meu lugar predilecto. Lugar, que agora pensando, reavendo memórias, não nos é estranho. E o resultado, para mim, foi como o lanche… Inesperado! Saímos na 2ª paragem, da rua que nós virá a ligar… Talvez.

Não estava ninguém em casa. Tirando a luz da cozinha, apenas para marcar uma falsa presença, tudo era deserto. Entramos e dei a conhecer minha casa.
No quarto, duas almofadas, álbuns fotográficos, t-shirts e recordações. E naquela divisão a temperatura era o oposto do gélido frio nocturno. O telhado transpirava orvalho. Escorregava! O plano de fuga deixaria de ser necessário depois de termos saído de casa. Parece que de casas gostávamos e casas fomos ver. Casas? Enganei-me! A casa! Não entramos mas fiquei a conhecer. E depois de esgotadas as opções locais partimos para o que seria um filme ao quente. Connosco tinhamos bolachas (Belgas são como que uma tradição). Ah e não posso esquecer os fósforos, nos quais éramos novatos. Éramos…

A viagem que se esperava longa, devido ao frio, foi curta, talvez devido às peripécias. A uma laranjinha pequena seguiu-se uma laranja dura. E o jantar estava servido! Mais tarde viriam bolachas (ou pipocas imaginarias?). Querendo esquecer os telemóveis que intimidavam chegamos ao destino!

Depois da nossa primeira vez, em algo degradantemente irreal, vimos televisão. Disfarçamos o cheiro! E digo eu, algo embaraçado, que foi a nossa primeira vez em fósforos. Irreal! A frase mais bonita (ou menos feia) que encontro para descrever o que fizemos é: “Cheiramos fósforos!”. Foi… interessante!
Cobrimo-nos!
Eles chegaram.


Tentei fazer com que se esquecesse do jantar. Se calhar as laranjas não foram a melhor opção. Para a próxima, que esperemos que não haja, pelo menos deste modo, vamos ao McDonalds. Tentei abraçar os sentimentos menos harmoniosos que a rodeavam, com esperança que a conseguir alegrar. Espero que… não. Não sei o que esperar.